quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Um pouco da minha infância.


Bola de Gude

É só até de onde eu lembro, tinha uma casinha, que era em frente a águas que viajavam cidade afora, embaixo de um poste e sobre uma manilha ficávamos todos reunidos, todos à procura de um plano, esperando o que seria daquela noite, prontos pra nos entregar a brincadeira que nos falaria duma parte da nossa vida, a hora de brincar.
Desenhávamos garrafões, testávamos nossas habilidades, de uma perna sobre a linha, e de duas contra todos, também atirávamos bolas de vidro a fim de alcançar um alvo bem complexo de se acertar, rodopiávamos arvores uma em cima das outras acopladas a metais e fazíamos à festa, nos esconder e nos achar, é simplesmente o maior dos enigmas, essa era a parte louca da noite, onde nos lançávamos a luz da lua e das nossas estrelas artificiais que tornavam as ruas cada vez mais labirínticas, ali concentrávamos como iríamos achar, nos esconder, e chegar ao ponto objetivo de toda a brincadeira, e era por aí que começávamos a conhecer os lugares e suas dimensões, onde poderíamos nos perder e depois nos achar, ou achar pessoas, ou procurar e acabar achando-as depois  da brincadeira, e assim a noite ia cumprindo seu papel como é de praxe.
Haviam sempre confusões e briguinhas que nos afastavam e nos faziam pensar, o por que de toda aquela situação, quem entrou duro no futebol em quem, quem enfiou o dedo na cara de quem, quem chamou a mãe de quem de qualquer coisa que seja, mas a verdade é que sempre tinha, e ajudava, por que a galera começava a entender por quais motivos tudo estava acontecendo, talvez eu esteja errado, mas a maioria dos que estavam lá naquela hora embaixo do mesmo poste, sabe hoje o que está fazendo, o certo e o errado, lhe dávamos uns com os outros a maior parte do tempo possível, não era só a parte da noite que soa sombria e parece violenta, mas desde as mortes das aulas nas habilidades fundamentais, tanto ao decorrer do futebol da tarde, que era sagrado. Pequeno campinho que logo viraria uma quadra parece que tudo era muito lógico, as mudanças de cenário para a aquisição de habilidades, as mudanças de luas, as enxurradas e alagamentos, as lamas e o caos, tudo parecia tanto com a infância, que talvez devesse se chamar de escola. Essa era legal! Mais ainda, era passar por baixo da catraca do ônibus e trocar o vale transporte por doce, bala, pipocas e picolés, isso tudo é claro depois da grande paixão de minha vida, a professorinha que sempre implorava para ser salva nas noites de domingo depois do fantástico, a mulher que te faz lírio e você não liga, mas que também te faz ler, escrever, e acaba completando um pedaço mínimo e essencial do que você precisava para encarar um pouquinho desse negocio que se chama sapiência. Até aí tudo bem, eu precisava disso mesmo, mas não imaginava o quanto, e porque será que me dedicava tanto? Não a aprender as historias e assuntos, as teorias propriamente ditas, por que analisar a parte sintática e morfológica das escritas, já que os contos dos gigantes e dragões eram mais interessantes? Cheguei à conclusão que não conseguia entender direito tudo aquilo, eu vivia mais correr do que tentava medir a força dos meus arranques, eu desaparecia e conseguia achar, sem precisar fazer isso num papel, ou formular números.
Mesmo assim depois de pouco questionar o que precisar e do que não precisar, acabei entendendo que precisamos às vezes até de uma luvada de pelica por mínimo que ela tenha sido, dependendo da situação, até se consegue aprender sobre... respeito.

E essas pequenas coisas acabam contribuindo finalmente pruma historia de babas na quadra, matança em massa de aulas em classe, regadas à lua espiando nosso esconde-esconde, ônibus que nos trazia doces, professoras que nos traziam paixões, mãos que nos traziam respeito, e finalmente futuramente um bom game violento e americano pra nos dar uma boa visão das coisas!

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