quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Eu não queria.

 
Eu não queria ter contato com a natureza, nem me sentar debaixo de uma árvore a mercê de uma sombra e brisa suave me despertando criatividades naturais, nem deitar e rolar sobre uma estepe macia e borboleteada com aroma de flores mil, nem me esbaldar com água fresca de um riacho calmo e límpido de águas fartas de clareza e vida, também não me interesso de vislumbrar uma bela união rochosa rodeada de nuvens e matas contrastando uma bela conexão universo/terra que se junta com costas litorâneas e coqueirais nos deixando apaixonados pelo poder da criação, me sinto pouco satisfeito por saber que tudo que vem para nós brota da terra, e o que brota da terra é provido pela força dos céus, e também não me conformo em achar que todo e qualquer alimento ou remédio, ou ungüento, ou veneno, vem da força plantifica do nosso solo, fico estarrecido por sentir o equilíbrio animal e vegetal tão equilibrado, por sentir o respeito dos mais fortes com os mais fracos e vice-versa, por saber que a carne que eles adquirem não vai para o lixo, por saber que eles não sucumbem à gula, que eles só fazem festa quando a água deixa o leito dos rios saciados.
Sinto-me cada vez mais preguiçoso quando a historia selvagem nos diz que precisamos construir nosso próprio espaço, e que precisamos caçar nossa própria comida. Construir e caçar dá muito trabalho, educar meus filhos então nem se fala, por que eu precisaria educar meu filho? Ele pode ir numa escola, numa faculdade, aprender tudo de uma forma mais dinâmica, não ficar tão apegado a mãe e aos afazeres selvagens, construir o espaço dele iria deixa-lo mais fraco, frágil, nervoso e estressado. Cuidar inteiramente da saúde moral e física de um filho não é papel para uma família, ensina-lo a caçar não é mais uma prática correta de se educar, hoje eles não precisam mais dessa necessidade.
Cuidar de uma mulher também não me torna mais um homem completo, elas já são bem cuidadas, já sabem fazer tudo, são fortes e duras, tem um coração de titânio, conseguiram os cargos que vislumbravam, hoje, elas caçam melhor que os homens, vão para dentro da mata e derrubam rinocerontes e javalis, derrubam até os maiores dos animais, que são claro elas próprias, elas deixaram de ter uma carne mole, meiga e macia, e dão lugar ao oposto de toda mansidão e carinho peculiar do gênero, tornaram-se rudes e cada vez mais concorrentes, sinceramente, não quero mais mulheres de antigamente, mulheres que fossem tão frágeis, prefiro as de hoje, as menos amorosas, as que não dependem mais de mim.
Uma serie de coisas naturais que deixaram de existir séculos adentro não me deixam mais excitados, claro, precisamos manter-nos modernizados, atualizados e cientes de que não podemos mais querer ser homens selvagens, isso é coisa de uma sociedade antiga e mal organizada, de uma sociedade mal equilibrada, não podemos mais querer ser homens caçadores e construtores, devemos ser mais flexíveis e cativos, de uma sociedade que está se concretizando num alto patamar tecnológico e inovado, temos que aderir a manutenção de uma vida antiga e selvagem a uma vida neologica, organizada e tecnológica, para nos manter cada vez mais prósperos, respeitosos e corretos como estamos sendo.
Por fim, sinceramente eu não queria ser um naufrago de uma praia linda e cheia de lugares inexplorados, não queria toda essa coisa bonita de se ver, talvez fosse querer se isso acontecesse por acidente.